Passado o período mais contundente de manifestações, é possível começar a desenhar o que de fato aconteceu. Não foi só pelos R$0,20, isso está claro. Então foi por mais o que então?
Varias sociedades contemporâneas passaram por manifestações como esta, onde a população insatisfeita foi às ruas “buscar” seus direitos. No Brasil mesmo, se olharmos para nossa história, vemos semelhanças com as “Diretas Já” ou com os “Caras Pintadas”, isso sem falar de 68.
Três pontos que chama a atenção:
- Não se precisa mais de um comando centralizado para comandar, para conclamar, para organizar uma manifestação. As manifestações “brotam” na internet e ganham as ruas. E seguem uma replicando a outra.
- Pode até não existir mais um comando central, mas pode existir uma ideia central. Uma ideia comum a todos, mas que é “traduzida”. Uma ideia que é adaptada à realidade que os manifestantes vivem. Um país continental como o nosso, é impossível achar que a realidade é a mesma para todos.
- E quando se diz ideia, que fique claro que ela é sempre plural, porque são inúmeras as reivindicações.
Outro ponto, mas dessa vez o de partida..... o start para as manifestações é antes dos R$0,20. É o acumulado quase que secular.... de N, inúmeras coisas que a população que vive nesse país suportou e sustentou.
R$0,20 é o gatilho!
A ideia do Brasil gigante, que tudo daria certo, que tudo estava bem, o país sede das duas maiores competições esportivas do mundo (Copa e Olímpiada), o pré-sal, a máxima “Brasil um país de todos e para todos” entrou em choque com a realidade de muita gente.
As classes C, D, E, F ..... Z querem as mesmas coisas das classes mais abastadas.
Não basta ter SUS, proclamar aos quatros cantos que Sistema Único de Saúde esta em 100% no território nacional. O SUS tem que funcionar. Não basta um PNE (Plano Nacional de Educação) que propõem 20 metas de 2011 a 2020, mas que está empacado no Congresso desde 2010. Não adianta pacificar as favelas, “empurrando” a violência das grandes cidades para o interior dos estados.
O discurso não combina com o que as pessoas vivenciam diariamente. Sob a camada de que tudo vai bem, existe uma realidade aonde a maioria das coisas vai mal.
Daí vem ao menos um ponto que é pacífico. A internet, mais precisamente as redes sociais estão no front dos movimentos. No cyberespaço todos tem voz, todos podem ser ouvidos, essas gerações que nasceram “plugadas” (gerações X, Y, Z mais especificamente) estão reconstruindo as sociedades contemporâneas.
Chegou-se a um momento em nossa história (e daí é um fator mundial e não só Brasil), que ou se aprende a dialogar com essas gerações, ou em breve muita gente vai estar falando para o vento.
Outro ponto! Existe de fato uma crise de legitimidade? E uma crise de representatividade? Por isso esses pactos, plebiscitos, referendos, reformas pipocam de nossos representantes?
Quem perdeu mais? A situação ou a oposição? Abriu-se uma brecha para uma terceira corrente?
Se no ápice dessas manifestações talvez a melhor forma de “enteder/desenhar” elas seria engrossar o coro na rua, para reaprender a falar. Talvez agora para “enteder/desenhar” seria o distanciamento?
Nossa democracia foi ameaçada? Vivemos uma ditadura disfarçada?
A pluralidade das manifestações, no sentindo de: eram muitos os motivos para irem às ruas e não apenas pelos R$0,20 faz com que todos nós pensemos bem daqui pra frente.
Quem será o novo líder para essa nova Era? Ou seria Eras?
Alias vivemos em que Era?
- da Informação, onde os meios de comunicação de massa exercem um papel social muito importante. Nunca o volume de notícias foi tão grande nem sua difusão tão rápida.
- do Conhecimento, onde é necessário aprender a absorver e a filtrar de forma inteligente toda a informação gerada, pela mídia. Conhecimento virou moeda de troca.
- ou da Exposição e do Compartilhamento, onde estaríamos na verdade na era da colaboração. A era da inteligência conectada. As mudanças continuarão e cada vez mais rápidas. Os experimentos são contínuos e feitos de forma real time.
O século XXI trouxe uma crise paradigmas?
E mais um ponto para reflexão: os novos analfabetos são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender.
Nossa sociedade prepara cada cidadão para ser crítico? Brasileiro é um povo pacífico ou passivo?
O gigante só acordou? Ou se levantou do berço esplêndido?
Estamos prestes a viver tempos talvez ainda mais difíceis, onde as decisões tomadas mudarão o rumo do país.
Não basta ouvir as vozes das ruas, a reforma que o Brasil precisa é a Reforma Moral!
Cristine Vigato Sepini
Obs.: Todas as imagens que ilustram texto foram inseridas em forma de links, estando disponíveis na web.
Comentários
Postar um comentário